Ontem, enquanto estava mais uma vez na mostra de arte ao vivo, na Festa da Juventude de Barcelos, passou-se algo que ao princípio estranhei e só mais tarde compreendi.
Tudo começou pouco depois de me ter sentado na mesa de desenho. Ao início tentei começar um desenho a lápis, mas não me sentindo verdadeiramente inspirada, pus de lado o desenho e tirei da mochila umas páginas de BD que tinha a lápis e que queria passar a limpo. O método que uso para tal é usar uma folha de papel vegetal grossa, por cima da página a lápis, e depois fazer a arte final na folha de papel vegetal (bem sei que há outro métodos, mas este é o meu, para já).
Colei as páginas à mesa, para não voarem, e lá me dediquei ao trabalho. O meu objectivo, de certa forma, era também mostrar a quem lá passava, uma das maneiras de se fazer BD.
Qual não foi o meu espanto quando começo a ouvir umas risadas ao meu lado. Um grupo de raparigas estava a apontar para o que eu estava a fazer e a rirem-se descaradamente. Claro que fiquei um pouco zangada, mas não fiz nada, nem disse nada. Afinal, nem todos sabem apreciar o trabalho dos outros.
Continuei o que estava a fazer, mas à medida que trabalhava nas outras vinhetas, sentia mais pessoas a comentarem sarcasticamente o meu trabalho. Aquilo irritou-me de tal forma, que pus a página de BD de lado e comecei a trabalhar noutra coisa, irritadíssima pela incompreensão. Cheguei mesmo a pensar sair mais cedo e ir para casa, mas depois de eu largar a BD as coisas amainaram.
De certa forma pensei que, talvez, a ignorância geral tivesse chegado a um tal ponto que desenhar BD fosse agora algo só para os 'miúdos' fazerem, mas ao mesmo tempo não conseguia acreditar nisso.
Fui-me distraindo com as crianças curiosas e imaginativas que por lá iam passando, muito mais frontais, mas também valorizadoras do trabalho dos outros.
Tinha já praticamente esquecido o 'incidente' da BD, quando ao fim da noite oiço uma menina dizer ao pai: "Olha papá! A menina afinal não está a copiar os desenhos. Vês! Não tem outro desenho por baixo. É ela que faz tudo."
E aí foi como se algo no meu cérebro fizesse clique!
Percebi finalmente que quem me viu a fazer a arte-final na BD, julgou que eu estava a copiar o desenho de outra pessoa (como se eu fosse uma criança de 5 anos!!!). Fiquei furiosa, senti-me ultrajada, mas também me senti a mais ignorante e ingénua pessoa à face da terra. Afinal, como haveriam eles de perceber o que eu estava a fazer? É claro que as pessoas saltam logo para conclusões precipitadas quando não percebem muito sobre determinado assunto. Eu é que devia ter pensado nisso e nem sequer ter tido a ideia de ir para lá fazer a arte-final da BD com papel vegetal. A minha intenção foi puramente artística e profissional, mas infelizmente fui muito mal interpretada, e vista como uma 'copiona' sem talento.
Não estou zangada com os outros pelo seu desconhecimento, mas sim comigo mesma pela minha ingenuidade. Tão habituada estou a estes processos, que já não me recordo que os outros não sabem estas coisas e que por isso vão julgar baseado no pouco que sabem.
Talvez não devessem, porque afinal, que tolinha iria para uma mostra de arte ao vivo copiar a arte de outro?, mas não posso culpabilizar ninguém senão eu.
É triste quando não somos compreendidos, e ainda mais quando somos motivo de chacota apenas por causa dessa incompreensão, mas a vida segue em frente. Lição aprendida!
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